sábado, 23 de maio de 2009

Gosto de infância


Eu me lembro, eu me lembro, era pequena...

Ontem eu acordei com gosto de infância na boca. Lembrei-me de várias coisas e de quanto eu era feliz. Imediatamente, veio à minha mente uma poesia que eu recitava – ensinada por meu pai (um poeta nato) – e que fazia o maior sucesso, em todos os lugares (festas da escola, aniversários da família ou um simples chá da tarde de senhoras).

Então, para resgatar esse momento fugidio, de saudades da infância, reproduzo abaixo a poesia responsável por alguns momentos de glória nessa minha jornada pela Terra.


Eu me lembro! Eu me lembro! Era pequeno

E brincava na praia; o mar bramia

E, erguendo o dorso altivo, sacudia,

A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento

“Que dura orquestra! Que furor insano!

Que pode haver de maior do que o oceano

Ou que seja mais forte do que o vento?”

Minha mãe a sorrir, olhou pros céus

E respondeu: - Um ser que nós não vemos,

É maior do que o mar que nós tememos,

Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.

(Casimiro de Abreu)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Essa tal de inclusão...

Mesmo depois de tantos anos na lida do dia-a-dia, enfrentando situações adversas, em geral provocadas pelo estranhamento diante de minha deficiência física - mas não só! -, ainda fico perplexa quando deparo com certas hostilidades e negação explícita de meus direitos, sobretudo os mais comuns, como ao trabalho, ao lazer, ao estudo, entre outros. E fico a pensar: e a tal da inclusão social, tão falada em prosa em verso, será que existe mesmo?
Pois não é que, neste momento, do alto de meus 52 anos de idade, tenho enfrentado constrasngimentos e situações de estresse no meu trabalho por causa da minha deficiência? E isto está acontecendo despois de 18 anos trabalhando no mesmo lugar!!!!!
Vou tentar ser suscinta.
Há cerca de um ano, desisti de ir caminhando no trajeto que vai do local em que estaciono meu carro até minha sala de trabalho. O solo, neste trecho, é irregular e, ao andar tropegamente, apoiada em minha frágil bengalinha, caí uma três vezes. Então, resolvi usar minha cadeira de rodas neste trajeto. Para tanto, preciso de ajuda para tirar a cadeira do porta-malas, montá-la e empurrar-me até a sala (não "toco" minha cadeira sozinha, pois meus braços não alcançam as rodas). Esta ajuda estava sendo prestada de maneira informal. Ou seja, quem estivesse por ali, no pátio do estacionamento, acabava ajudando. Como, às vezes, demorava para aparecer alguém, comecei a pedir ajuda ao entrar pelo portão, pedindo que alguém fosse me esperar no local onde iria parar o carro. Eu sempre escolhia entre duas opções: acionar um dos vigilantes da empresa ou um dos motoristas.
Foi aí que a chefia do departamento do transporte resolveu "fechar o tempo", alegando que não seria obrigação deles prestar-me ajuda... Pra mim, diretamente, nunca foi dito nada. Eu apenas escutava o "zum-zum-zum", ora de um porteiro (a quem eu pedia para ligar no ramal do transporte avisando que eu havia chegado), ora de um patrulheiro, ora dos próprios motoristas.
Um dia, resolvi acabar com esse mal-estar e foi então que deparei com uma série de situações que, sinceramente, acreditei que nunca mais iria enfrentar (sobretudo em época da já famosa inclusão social): bati boca com o encarregado do transporte e ouvi queixas dos vigilantes, um empurrando pro outro o "favor" de me ajudar.
Rodei a baiana, assumindo a minha porção "militante do movimento em defesa da pessoa com deficiência" e mandei e-mail para todos que considerei co-responsáveis pelo meu direito ao trabalho com dignidade, a saber: departamento jurídico, departamento pessoal (RH), equipe da Segurança do Trabalho e, claro, minha chefia direta e os próprios envolvidos departamentos de transporte e de vigilância da empresa. Defrontei-me com o silêncio total (ignorando-me premptoriamente) de todos a quantos mandei a tal mensagem de indignação e cobrança de providência. Deste "todos", salvaram-se dois: meu colega de editoria (que não gosta que eu me refira a ele como "chefe", mas é este o seu papel...) e meu diretor de redação (este, sim, o "chefe"). O primeiro conversou longamente comigo e, apesar de não concordarmos em tudo, ele me ouviu e me deu alento na solidão de minha indignação; o segundo me garantiu que acharia uma solução para o "problema".
A situação foi, em parte, resolvida. Ainda não estou plenamente satisfeita com a solução encontrada (uma secretária vai intermediar meu pedido de ajuda, antes de eu chegar na empresa, e verá quem poderá, naquele dia, fazer o "favor" de me ajudar).
Mas, em toda essa história, tem um detalhe importantíssimo que serve de reflexão a todos os envolvidos com a tal inclusão social: o encarregado do transporte, que começou toda essa "arenga", é pai de um garoto com deficiência. Nestes 8 anos de empresa, tive alguns momentos de conversa com esse funcionário (que é tão ou mais antigo que eu por lá...), ainda no tempo em que ele era motorista (antes de ser o encarregado). Como eu não ficava fazendo muitas perguntas (pois percebia um certo constrangimento dele em falar sobre o assunto), não sei detalhes sobre a deficiência do filho, não sei se é só física ou se também tem algum comprometimento intelectual. Sei apenas que o garoto usa cadeira de rodas, precisa de ajuda para se alimentar e frequenta (ou frequentava, ou deveria frequentar, não me lembro bem do relato) uma escola especial.
Narro todos esses fatos, em primeiro lugar, para desabafar; em segundo, como já disse, para deixar uma reflexão na busca de ações para alcançarmos, efetivamente, uma sociedade mais justa, adquirindo "olhos para ver" aspectos sutis da alma humana. E, finalmente, para dizer que, apesar da frustração e de todo incômodo que esta situação me causou (e ainda me causa), não vou desistir.
Àqueles que se incomodam com a minha existência, deixo um poeminha de Mário Quintana que me consola nos momentos de revolta e decepção. Ei-lo:


Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu, passarinho!
(Mario Quintana)

sábado, 11 de abril de 2009

Uma surpresa portuguesa

Tem horas que penso em desistir de manter esse blog... Afinal, são tantas as demandas. Às vezes, como no atual momento, não consigo nem mesmo dar conta das minhas obrigações e fico cansada só de pensar em tudo o que tenho pra fazer (e cada vez arranjo mais coisas...).

No entanto, algo sempre acontece para me mostrar que esses espaço aqui é muito importante, é como uma porta aberta pro mundo... E sabem quem acabou entrando? Uma jovem portuguesa, a Verônica, de 17 anos, que me trouxe palavras de incentivo e de muito carinho.

Tal qual na época das navegações portuguesas, atravessei os mares e fui parar numa pequena aldeia para encontrar com a Verônica. Ela é linda e quero apresentá-la aqui no meu blog, para repartir com todos essa simpática portuguesinha.

Com a autorização dela, reproduzo o e-mail que ela me mandou, assim como sua foto. Reparem na linda poesia que ela compôs pra mim...


A senhora gostava de saber como é que eu econtrei o seu blog, pois eu digo-lhe que tive muita sorte; Eu estava a procura de informações sobre nanismo, para ver se era isso que uma vizinha minha tinha, fui pesquisando e aprofundando a pesquisa, até que por uma questão de muita sorte como já referi anteriormente, encontrei o seu blog, por curiosidade li e gostei bastante, daí, decidi procurar mais coisas acerca do blog e da autora , porque,... não sei bem explicar, mas havia ali, naquele seu blog palavras e frases que mexeram com o meu interior, e posso lhe dizer que delícia é saber que existe alguém no planeta tão querida, com palavras tão quentes como a senhora.

Este poema que aqui vem, é o "significado" do que me levou a ler o seu blog:

"A voz do silêncio chamou-me,

E sem eu perguntar o que queria,

Ele respondeu-me:

- Atira-te ao mar,

Vai salvar o que sentes ,

Vai desabafar o que te agoneia,

E se o teu amor são as pessoas,

Principalmente aquelas que sem saberes porquê bateram na moradia do teu sentir,

Abre-lhes a porta, Deixa-as entrar,

Para AMIZADE poderem juntas pactuar.

E eu comentei:

-Tens razão,

Sabes, eu não vivo só para mim, mas principalmente para os outros,

Eu não vivo no conhecimento, mas para conhecer,

Eu não vivo só para ter a opinião, mas também para a partilhar,

Eu não escrevo isto para que me agradeça, mas para dizer
Muito Obigada por a ter conhecido, mesmo que não seja pessoalmente."


A senhora gostava que eu lhe falasse um pouco de mim, posso lhe dizer que nasci no dia 22 de Março de 1992, moro numa aldeia, que pertence a uma pequena cidade chamada Vale de Cambra, estudo na escola secundária de Vale de Cambra, estou a tirar o curso científico - humanistico de Artes Visuais ( este ano lectivo é o 1º ano em que a escola adere ao curso). Ainda não sei o que quero ser no futuro, mas tenho a certeza que quer o que seja tem que ter haver com a área que estudo, já que a minha segunda paixão é desenhar, pintar..., digo segunda paixão porque a primeira são as pessoas, mas também gosto de ouvir música, ver TV, escrever e ler (o meu livro preferido até agora foi " O amor nos tempos de cólera" de Gabriel García Márquez). Um enorme beijo e espero que nós continuaremos a partilhar assuntos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sensibilidade

O que tem a ver a luta pelos direitos das pessoas com deficiência com a luta pela defesa da vida animal? Foi esta a primeira pergunta que me veio à mente ao receber o convite para escrever esta coluna (artigo de estréia em coluna no jornal do Instituo de Valorização à Vida Animal – IVVA – de Campinas, em 2007). E a resposta veio de imediato: a sensibilidade.
Num mundo cada vez mais coisificado, descartável e imediatista, resta-nos muito pouco tempo – e oportunidade – para nos dedicarmos às coisas simples, aparentemente sem importância capital, mas que alimentam nossa alma, pois estão inseridas no patamar da emoção, da delicadeza, do sutil. Enfim, da sensibilidade. E é aí que encaixo o contato com os animais.
Este é o discurso que faço como atual presidente – e uma das fundadoras – do Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), uma organização não-governamental de e para pessoas com deficiência. Mas, como pessoa e que, ainda por cima, tem uma deficiência (sou portadora de nanismo em conseqüência de má formação óssea congênita), o discurso é outro (porém não diferente do que afirmei acima).
Os animais, em especial os domésticos, por estarem mais perto de nós, podem ser veículos que nos levam a ter contato com emoções escondidas lá no âmago de nosso ser. Emoções impedidas de serem expressas a outro ser humano, por motivos que, talvez, nem Freud explique (que sei eu da psicanálise?).
Melhor do que ficar buscando palavras para dizer o indizível, deixo aqui com vocês um poema que escrevi aos 22 anos, quando morreu um de meus cachorros. A tristeza transbordou em palavras que hoje, 28 depois (e pela primeira vez), divido com vocês.

Morreu meu cachorro
Morreu uma presença
Para alguém que está só
Morreu o carinho
Para alguém que é carente
Morreu o sensível
Para alguém que é racional
Morreu a entrega
Para alguém que se guarda
Morreu a inocência
Para alguém que está armado
Morreu o espontâneo
Para alguém que se vigia
Morreu tanta coisa... e morreu apenas meu cachorro!
(Santos, 8/10/1978)


Alguns dos meus animais de estimação atuais (2009)

Esta é a Ítaca, a primogênita, de 13 anos (gata vira-lata, branca com manchas pretas)

Esta é a Pandora (cachorra vira-lata, porte médio com peito, patas e ponta do rabo brancos)



Esta é a Frida - de Frida Khalo (cachorra vira-lata, porte médio, preta com patas e focinho marrons)






quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Encarando a diversidade

Meu filho me pediu uma boneca

Texto de Denise Batista



Há uns dois meses meu filho de sete anos me pediu uma boneca. Dividida entre a intelectualidade dos estudos acadêmicos e os valores que a nossa "reaça" sociedade demonstra nas questões de gênero, dei a boneca," bancando" um barulho enorme por parte da família, colegas de trabalho, ex-marido e afins. Sem contar com a censura silenciosa de alguns, revelada por olhares ou gestos. É claro que recebi apoio e solidariedade. Mas o oposto foi muito mais pesado. Confesso que compreendo. Por parte de alguns mais, por parte de outros, menos. Mas respeito.
O meu desconforto foi muito mais em relação a mim mesma do que às posturas percebidas, públicas ou anônimas, verdadeiras ou educadas. Foi duro encarar minha insegurança em assumir DE FATO uma posição em relação às minorias sociais. Foi esta imagem, refletida no espelho das relações familiares que meu filho e sua boneca me obrigaram a olhar. Tive que sustentar uma postura, na prática, que há muito considerava como minha. Em teoria. Só descobri isto quando foi com um filho meu.
Aqui faço um parêntese: enquanto eu me torcia e retorcia constrangida, fazendo como o anão de jardim "cara de paisagem", meu filho não estava nem aí para os olhares e comentários sobre meninos e bonecas e exibia orgulhoso a sua gorducha bailarina, penteando os seus cabelos, trocando as suas roupas, mudando o seu penteado, entre extasiado e maravilhado com as possibilidades daquele "ser" de 20 e poucos centímetros e puro látex, para onde ia: no meu trabalho, no Mestrado, pelas ruas, na casa do avô, do pai...lugares públicos ou privados para este menino não dizam nada! A cada um que afirmava que boneca não era coisa de "macho", ele perguntava candidamente: por quê?
A boneca para o meu filho foi um Lego às avessas: montava, desmontava, descobria as calcinhas (olha mamãe a calcinha dela!) maquiava, lavava, alimentava... Confesso: quando ninguém estava olhando, brincava junto com ele e me divertia à beça, me sentindo criança de novo, relembrando o prazer de simplesmente brincar!
Enquanto isso, na vida real as opiniões se dividiam entre as seguintes opções:
OPÇÃO A: Não é nada demais, é só uma fase, (os conservadores, mal disfarçando o seu mal-estar psicologizando a "coisa")
OPÇÃO B: Ele está descobrindo a sexualidade, (os moderados)
OPÇÃO C: Ele esta aprendendo a cuidar dos filhos. Por que, homem não pode cuidar dos filhos, não é? (os progressistas-liberais de extrema esquerda intelectuais, dentre eles, minha querida "profdoc" Cristina Novikoff, um bálsamo na minha vida)
OPÇÃO D: Ele está querendo chamar a atenção em protesto por tudo que passou nestes últimos tempos (os contemporizadores sociologizando a mesma "coisa")
OPÇÃO E: Este menino vai é ser "viado" mesmo! (muitos, em off, é claro!)
OPÇÃO D: Nenhuma das anteriores (mas esta opção não é aceita na pedagogização da "coisa")
E eu ali, realizando uma pesquisa disfarçada sobre o assunto, coletando os dados, tratando-os e analisando os resultados!
Mentalmente, catalogava as opiniões. Torturava-me a possibilidade entre assumir uma atitude "firme" com meu filho para não ser julgada e execrada, ou seja, aceita pelos meus pares, ou ainda pior, sucumbir num mar de disfarces, meias-mentiras, mentiras inteiras, hipocrisias...
Optei pela lealdade aos meus princípios. É neles que está o amor incondicional ao ser humano e o respeito às diferenças, que só se consolidam se você tiver um compromisso real com a verdade. A sua verdade. Possibilitando àquilo que é estranho, ser familiar. Esta postura é uma daquelas que, quando a gente "bota a cara" sabe, e leva muita, mas muita porrada (não é Aninha?).
Meu filho é um ser humano. Pode ser diferente ou não no sentido convencional das opções sexuais. Mas isto não é importante. É apenas uma categoria de análise. Logo, não posso abrir mão dos meus princípios, pois eles constituem a minha identidade. Mantenho-me fiel a eles.
Bem seja o que for que representa a boneca para o meu filho, o fato é que ele está feliz da vida com o seu brinquedo novo e está me pedindo outra...
O fundamental, importante e imprescindível é o amor que sinto por este mini-humano e a admiração profunda que sinto ao vê-lo cuidar tão amorosamente do irmão menor, pela sensibilidade em perceber só de olhar meu rosto, o meu estado de ânimo, mesmo se tento disfarçar (e me alertar!), pela preocupação com a o coletivo, demonstrada nas pequenas atitudes cotidianas, como não jogar papel de bala no chão ou recolher as garrafas pets que meu pai insiste em atirar no seu quintal; em demonstrar bom caráter ao não contar mentiras muito punks (aquelas que sacaneiam alguém ferindo seus sentimentos), pela comoção sincera quando vê um desvalido, pela alegria com que admira a beleza de uma florzinha safada no jardim da minha mãe e colhê-la e colocar num copo me oferecendo; ao adorar incensos e gostar de livros, não com a devoção que eu gostaria, mas ok, e ao profundo amor que devota à sua Bolinha.
Me emociono ao vê-lo dormir e me assusto com a rapidez com que está tendo que amadurecer, pois a vida não tem sido fácil para ele.
Sendo assim, é muito fácil ser mãe deste ser humano de sete anos que me chama de mamãe. E se ele for gay, lésbica, hetero, bi, drag, transformista ou desejar uma cirurgia de mudança de sexo, tudo bem. Mesmo. O importante é que seja qual for o caminho escolhido, que seja pautado pelos princípios humanitários. Aqueles que fazem a gente ser decente e não nos torna indiferentes às misérias do mundo. E de quebra, que ame o seu próximo, respeitando a dignidade alheia. E que sonhe sempre com um mundo melhor, como antídoto para afastar o cinismo que ronda o cotidiano da perversidade.
Antônio, eu te amo meu filho. Por tudo. Mas principalmente por me fazer olhar, de forma corajosa para dentro de mim mesma.

Com amor,

Mamãe


FONTE: http://denisezinha.blogspot.com/2009/01/meu-filho-me-pediu-uma-boneca_03.html e http://denisezinha.blogspot.com/2009/01/meu-filho-me-pediu-uma-boneca_03.html

sábado, 10 de janeiro de 2009

A magia do sono



















A pessoa que dorme está inteiramente só. Quando o homem dorme, o seu rosto se desarma de todas as tramas, de todos os desgostos. E ela se debruça sobre a face do amado e descobre que eram simples palavras todas as valentias que ele vinha lhe dizendo ou dando a entender. Quando a gente se parece menos com os mortos é quando está dormindo. Quanto mais pobre, mais comovente o ser humano quando dorme. No sono, as pessoas boas e confiantes ficam desarrumadas. A mais leve carícia de sua mão sobre o corpo da amada que dorme poderá quebrar a solidão do sono e a tranqüilidade da carne já não seria completa. Contente-se em enternecer-se sem tocá-la. Mas, se for preciso despertá-la, que seja com ruídos aparentemente casuais.
Ah, que intenso ciúmes do passado e do futuro sobre a nudez da amada que dorme! Só você a viu e só você a verá assim tão bela!

(Texto de Antonio Maria, in Brasileiro, Profissão Esperança. Imagem: Moça Dormindo, pintura digital de João Werner (in www.joaowerner.com.br/.../ nus/moca_dormindo.htm))

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Novo ano - 2009


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial! Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra a mágica da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

(Frase retirada do blog Assim como Você - http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br/)


Descrição da foto: início de um eclipse lunar, em que apenas um pequeno pedaço da Lua, em sua parte lateral superior, está coberto por uma sombra.