segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sensibilidade

O que tem a ver a luta pelos direitos das pessoas com deficiência com a luta pela defesa da vida animal? Foi esta a primeira pergunta que me veio à mente ao receber o convite para escrever esta coluna (artigo de estréia em coluna no jornal do Instituo de Valorização à Vida Animal – IVVA – de Campinas, em 2007). E a resposta veio de imediato: a sensibilidade.
Num mundo cada vez mais coisificado, descartável e imediatista, resta-nos muito pouco tempo – e oportunidade – para nos dedicarmos às coisas simples, aparentemente sem importância capital, mas que alimentam nossa alma, pois estão inseridas no patamar da emoção, da delicadeza, do sutil. Enfim, da sensibilidade. E é aí que encaixo o contato com os animais.
Este é o discurso que faço como atual presidente – e uma das fundadoras – do Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), uma organização não-governamental de e para pessoas com deficiência. Mas, como pessoa e que, ainda por cima, tem uma deficiência (sou portadora de nanismo em conseqüência de má formação óssea congênita), o discurso é outro (porém não diferente do que afirmei acima).
Os animais, em especial os domésticos, por estarem mais perto de nós, podem ser veículos que nos levam a ter contato com emoções escondidas lá no âmago de nosso ser. Emoções impedidas de serem expressas a outro ser humano, por motivos que, talvez, nem Freud explique (que sei eu da psicanálise?).
Melhor do que ficar buscando palavras para dizer o indizível, deixo aqui com vocês um poema que escrevi aos 22 anos, quando morreu um de meus cachorros. A tristeza transbordou em palavras que hoje, 28 depois (e pela primeira vez), divido com vocês.

Morreu meu cachorro
Morreu uma presença
Para alguém que está só
Morreu o carinho
Para alguém que é carente
Morreu o sensível
Para alguém que é racional
Morreu a entrega
Para alguém que se guarda
Morreu a inocência
Para alguém que está armado
Morreu o espontâneo
Para alguém que se vigia
Morreu tanta coisa... e morreu apenas meu cachorro!
(Santos, 8/10/1978)


Alguns dos meus animais de estimação atuais (2009)

Esta é a Ítaca, a primogênita, de 13 anos (gata vira-lata, branca com manchas pretas)

Esta é a Pandora (cachorra vira-lata, porte médio com peito, patas e ponta do rabo brancos)



Esta é a Frida - de Frida Khalo (cachorra vira-lata, porte médio, preta com patas e focinho marrons)