Num mundo cada vez mais coisificado, descartável e imediatista, resta-nos muito pouco tempo – e oportunidade – para nos dedicarmos às coisas simples, aparentemente sem importância capital, mas que alimentam nossa alma, pois estão inseridas no patamar da emoção, da delicadeza, do sutil. Enfim, da sensibilidade. E é aí que encaixo o contato com os animais.
Este é o discurso que faço como atual presidente – e uma das fundadoras – do Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), uma organização não-governamental de e para pessoas com deficiência. Mas, como pessoa e que, ainda por cima, tem uma deficiência (sou portadora de nanismo em conseqüência de má formação óssea congênita), o discurso é outro (porém não diferente do que afirmei acima).
Os animais, em especial os domésticos, por estarem mais perto de nós, podem ser veículos que nos levam a ter contato com emoções escondidas lá no âmago de nosso ser. Emoções impedidas de serem expressas a outro ser humano, por motivos que, talvez, nem Freud explique (que sei eu da psicanálise?).
Melhor do que ficar buscando palavras para dizer o indizível, deixo aqui com vocês um poema que escrevi aos 22 anos, quando morreu um de meus cachorros. A tristeza transbordou em palavras que hoje, 28 depois (e pela primeira vez), divido com vocês.
Morreu meu cachorro
Morreu uma presença
Para alguém que está só
Morreu o carinho
Para alguém que é carente
Morreu o sensível
Para alguém que é racional
Morreu a entrega
Para alguém que se guarda
Morreu a inocência
Para alguém que está armado
Morreu o espontâneo
Para alguém que se vigia
Morreu tanta coisa... e morreu apenas meu cachorro!
(Santos, 8/10/1978)
Alguns dos meus animais de estimação atuais (2009)
Esta é a Ítaca, a primogênita, de 13 anos (gata vira-lata, branca com manchas pretas)
Esta é a Pandora (cachorra vira-lata, porte médio com peito, patas e ponta do rabo brancos)
Esta é a Frida - de Frida Khalo (cachorra vira-lata, porte médio, preta com patas e focinho marrons)
2 comentários:
Katia, conheci seus bichos pessoalmente, quando estive em sua casa, aí em Campinas. A operação evacuação geral para que minha filha fosse ao banheiro foi digna da SWAT! Tenho que confessar que nunca tive apego por bicho algum, apesar do bem querer com todos. Até o dia em que eu e minha namorada adquirimos o Raul, um poodle encantador. Ele não está muito bem de saúde, quase faleceu, mas está se recuperando, talvez pelo fato de ter apenas cinco meses de idade. Fico pensando comigo que depois de mais de quatro décadas de vida, me apego a um cachorro e ele flerta com a morte. Vai ser micado assim lá na China, penso novamente...mas tenho fé que tudo vai acabar bem. Parabéns pelo poema, minha amiga. Sensibilidade é o que estamos precisando. Vida longa aos bichos!
Oi Katia
Meu nome é Lucio Carvalho. Sou editor da Inclusive - Agência para Promoção da Inclusão - http://agenciainclusive.wordpress.com/ - e gostaria de conversar com você por e-mail. Pode ser? Nosso e-mail está no blog, certo? Tb tenho um blog pessoal, se quiser conhecer, chamado Morphopolis que está em http://morphopolis.wordpress.com/
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