terça-feira, 13 de abril de 2010

Chuvas de descaso - Em defesa da vida

Descrição da imagem: Bombeiro e alguns moradores descem um morro, andando contra uma enxurrada que deixa a água na altura acima dos joelhos.

Deixo, hoje, com vocês, um triste e emocionante depoimento de uma amiga, que faz parte de uma lista na internet sobre o Movimento de Vida Independente, da qual participo. Ela, Solane Carvalho, tem sequela de poliomelite, é cadeirante e militante me defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Mas aqui, neste depoimento isceral, ela é apenas uma cidadã indignada e consternada com a tragédia que assolou, recentemente, o estado do Rio, sobretudo Niterói, cidade em mora. É um depoimento em defesa da vida e da dignidade humana. Com a palavra, Solane!


Por aqui (em Niterói) estamos mesmo lutando para vencer os incêndios, a chuva, as ondas (do mar), a falta de luz e comunicação... De fato, a situação tem se mostrado calamitosa – e triste principalmente.
A pulverização da tragédia no município (
de Niterói) é assustadora na exata medida da ausência de efetivas políticas públicas voltadas para a prevenção e respeito à vida ! Andando pelo meu bairro, encontro vizinhos consternados, o dono da banca de jornal, da quitanda, o motorista de táxi. “Lembra-se daquele senhor que trabalhava naquele prédio?” “E o entregador da farmácia sorridente? Onde estão essas pessoas e suas famílias? Essas e tantas centenas de outras pessoas se foram, vítimas de tudo, de todos, de nós mesmos, nosso silêncio, nossas ações e/ou omissões....
Quisera que estivéssemos diante apenas de uma fatalidade. Brigaríamos com os deuses e iríamos dormir blasfemando. Estamos no século 21 e tragédias em encostas de favelas não são obra da “malvada” natureza (um raio indomável, um ciclone, um terremoto, sequer a chuva), são frutos do desrespeito à vida e à dignidade humana, fruto do descaso. É óbvia e gritante a responsabilidade desses atores públicos.
O drama das famílias que tudo perderam tem feito parte cotidiana dos nossos dias. Ruas interditadas, bombeiros, meus vizinhos recolhem mantimentos nos corredores do prédio, catamos no armário nossas roupas pouco usadas, nossos sonhos também.... Aquela menina de 8 anos de idade, moradora da favela, órfã de todos, em sua sabedoria de criança comoveu o País ao ser entrevistada pela Fátima Bernardes (jornalista da Rede Globo) - e nos comoveu – ao afirmar que vai prosseguir, que tem muita vida pra viver. Vital esperança.
Katia, querida, tenho estado atenta aos noticiários da cidade em busca de informações sobre pessoas com deficiência vítimas desse último dilúvio. Soube, até agora, apenas de um rapaz que infelizmente, sem chance alguma, faleceu soterrado pela lama num morro próximo a minha casa. Segundo soube , ele tinha uma deficiência física e usava cadeira de rodas. Lembrei logo do rapaz do posto de gasolina, morador daquele morro, que, sempre sorridente, calibrava os pneus da minha cadeira de rodas...
Aqui em Niterói, um dos postos de recolhimento de mantimentos é o Clube Canto do Rio, localizado no Centro da cidade. Felizmente, o número de doações é tão expressivo que hoje, por exemplo, não era possível transitar de carro pela rua do Clube que se encontra totalmente congestionada de veículos que não param de chegar, trazendo donativos para as vítimas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Viagem a Maputo - Diário de bordo (2)


Descrição da imagem: Uma tenda de acampamento verde-musgo (camping) e uma escultura de girafa, em tamanho natural (muito parecida com a verdadeira girafa), enfeitam a frente de uma loja.

A foto acima mostra a frente de uma loja no aeroporto de Johannesburg (África do Sul). Já dá pra entrar no clima das savanas africanas, não dá?
O aeroporto é enooooooorme. Só para se ter uma ideia, andamos (eu e minha amiga na cadeira de rodas e nossas acompanhantes a pé - coitadas!) por cerca de uma hora e meia dentro do aeroporto. Isso aconteceu na volta, pois chegamos de Maputo em Johannesburg à tarde do dia 11/3 e nossa conexão aérea para São Paulo só sairia no dia seguinte, às 10h da manhã. Então, tivemos que sair do aeroporto para ir dormir num hotel. Foi inacreditável a distância entre o desembarque da aeronave, vinda de Maputo, e a saída do aeroporto. Uma hora e meia (ou um pouco mais), dá pra imaginar?
Mas reforço que as pessoas que nos atenderam na África do Sul foram simpatissíssimas. Não houve nenhum problema em lidar com duas cadeirantes. Parecíamos até gente normal!!!!
Inclusive, na volta, furou o pneu da minha cadeira de rodas. Eu fiquei na cadeira da companhia aérea - a South African Airway - e, na hora de ir para o hotel, em translado fornecido pelo próprio hotel, foi-me oferecida também uma cadeira de rodas substituta. E com essa cadeira eu fiquei até o dia seguinte,quando voltamos ao aeroporto para viajarmos de volta ao Brasil.
Bem, finalmente, no próximo post eu falarei de Maputo. Chegaremos lá!