segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dia Nacional de Luta e o direito ao trabalho



Descrição da imagem: na rua, o chão está pintado com o Símbolo Internacional de Acesso (desenho estilizado de uma pessoa numa cadeira de roda em branco com fundo azul) e várias pessoas andam sobre ele.


Por Vinícius Garcia


As pessoas com deficiência – aquelas com diferentes níveis de limitações físicas, sensoriais ou cognitivas – escolheram o dia 21 de setembro como o seu Dia Nacional de Luta pela Cidadania. O objetivo de marcar uma data no calendário para lembrar a todos que existimos e somos cidadãos – com direitos e deveres – é manifestar, todos os anos, que precisamos avançar na construção de uma sociedade inclusiva, que entenda as “diferenças” como parte da diversidade humana.

No passado não muito distante, as crianças que nasciam com algum tipo de limitação e as pessoas que adquiriam uma deficiência estavam condenadas a viver à margem da sociedade, limitando-se ao convívio e apoio familiar, vistas como incapazes, até mesmo como um “fardo” para suas famílias. Mal eram ouvidas, não tinham vontade própria e a sociedade, no máximo, lhes concedia benevolência e assistencialismo... pobres coitados!

Era “natural” que alguém nessas condições – com limitações das mais variadas – não precisasse ir à escola, frequentando, no máximo, instituições especializadas. Trabalhar então, nem pensar. Quase que automaticamente, quando alguém adquiria uma deficiência em função de um acidente de carro ou por arma de fogo, por exemplo, esta pessoa “se aposentava por invalidez”. Em função disso, nos dias atuais, parte das dificuldades das pessoas com deficiência em trabalhar formalmente se deve à baixa escolaridade média deste segmento e aos problemas da legislação trabalhista, pois só pode retornar ao mercado quem escolher abrir mão da aposentadoria.

Mas não é só isso. Neste Dia Nacional de Luta é preciso reafirmar que a maior parte das dificuldades das pessoas com deficiência está na sociedade, não nas limitações físicas, sensoriais ou cognitivas de cada um. Quando nos aproximarmos de um município verdadeiramente acessível – nos meios de transporte, nas ruas, calçadas e meios de comunicação -, quando tivermos serviços públicos verdadeiramente inclusivos na educação, saúde e outras áreas, quando os estereótipos e mitos ainda associados às pessoas com deficiência forem desfeitos, aí, sim, o direito legítimo e fundamental ao trabalho será respeitado para as pessoas com deficiência.

Em Campinas, temos avançado nesse processo e a organização social e política das próprias pessoas com deficiência contribui muito nesse sentido. Cada vez mais os gestores públicos percebem que não é possível esconder esse “problema”, ignorar as pessoas com deficiência. Mas ainda falta muito. Estimativas recentes revelam que apenas entre 10% e 15% das pessoas com deficiência, em idade ativa, estão trabalhando formalmente.

Portanto, precisamos continuar atuando na fiscalização da chamada “Lei de Cotas”, mas também, e principalmente, avançar na construção da sociedade inclusiva, eliminando barreiras físicas e de atitude que impedem o pleno exercício da cidadania pelas pessoas com deficiência.

Vinicius Garcia é economista, diretor da ONG CVI/Campinas e doutorando em Economia Social e do Trabalho na Unicamp

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MPF recomenda que Enem tenha tradutor de Libras

O Ministério Público Federal (MPF) do Mato Grosso do Sul recomendou que os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com deficiência auditiva tenham direito a um intérprete ou tradutor de Libras presente no momento da prova. Esse profissional precisa ter, obrigatoriamente, aprovação em exame de proficiência em Libras e nível superior.

Durante a prova de redação, o intérprete é encarregado por traduzir os símbolos da Libra comunicados pelo candidato para o português. Segundo o MPF, “atualmente a tradução de Libras para o português é prejudicada porque os profissionais não têm a devida habilitação”. Com isso, o desempenho do candidato no exame escrito fica comprometido.

A recomendação foi enviada ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que tem dez dias para se manifestar. Ela não tem valor de ordem judicial, mas deve ser observada para evitar futuras ações judiciais.

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Exclusão às avessas: quem não tem deficiência não entra

Hoje, deparei com um release que diz o seguinte: " (...) estarão abertas as inscrições para os cursos gratuitos de Informática Básica, Alimente-se Bem e Telemarketing, destinados à deficientes visuais e físicos" (sic)*.

Chocada com o que acreditei ser um exemplo de exclusão inadmissível em tempos de inclusão social, fui procurar mais informações e entender do que se tratava.

Como dois desses cursos – Informática Básica e Telemarketing – estão sendo oferecidos pelo Senai de Americana (interior de SP), quem conversou comigo foi o Vinícius Martin, coordenador dos cursos técnicos daquela conceituada escola.Ele me explicou que o curso Informática Básica vai ensinar como usar as ferramentas (softwares) destinadas à leitura de tela, criadas para possibilitar o uso do computador por pessoas cegas. Portanto, o curso destina-se àqueles que necessitam usar essas ferramentas - os cegos.

Achei razoavelmente aceitável a explicação. Mas acredito que o release deveria deixar isso claro, informando algo do tipo: "Estão abertas inscrições para o curso de Informática Básica que vai habilitar o aluno ao uso de ferramentas de leitores de telas, usados por pessoas com deficiência visual". Dessa forma, inclusive, poderia surgir o interesse de alguém, que não fosse cego, de querer fazer o curso apenas para conhecer as ferramentas. Mas, tudo bem, isso foi um problema de redação e o Vinícius me explicou que a responsabilidade pelo release era da Secretaria de Promoção Social da prefeitura de Americana (atenção, pessoal da prefeitura de Americana!).

Sobre o segundo curso, Telemarketing, o que entendi pela explicação do Vinícius é que, até agora, o Senai de Americana ainda não oferecia esse curso, que passará a fazer parte da grade somente a partir desta primeira turma de pessoas com deficiência visual que aprenderá a Informática Básica. "Como já temos muitos inscritos – todos com deficiência visual – e temos uma limitação de espaço, resolvemos oferecer esse segundo curso apenas para os que já estão inscritos do primeiro curso", alegou Vinícius.

Sinceramente, continuo achando isso um pouco estranho e completamente na contramão da história de conquistas dos direitos da pessoa com deficiência, que repudia a segregação.

O estranho é que esse curso de Telemarketing está aberto, também, a pessoas com deficiência física – que, a priori, não fizeram o primeiro curso, o de Informática Básica. Pois bem, se outras pessoas, além dos cegos, podem ser inseridas nessa turma, por que não também outros sem deficiência ou com outras deficiências (surdos, autistas, pessoas com síndrome de Down etc.)?

Resumo da ópera: na era da inclusão, quando acabamos de conquistar uma de nossas maiores vitórias, que é a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, da ONU – da qual o Brasil não apenas é signatário como também deu status de lei à tal Convenção – não se pode mais admitir qualquer tipo de isolamento, segregacionismo ou criação de guetos para as pessoas com deficiência.

No caso em pauta, se poderia simplesmente informar: "Senai oferece curso para aprendizado de softwares destinados a cegos". Quem quisesse fazer o curso (cegos ou não) que fizesse! E, em seguida, deveria ser aberto o curso de Telemarketing PARA TODOS. No máximo, se poderia reservar uma porcentagem das vagas de tal curso para as pessoas com deficiência visual de tenham feito o primeiro curso – de aprendizado dos softwares – que, por ventura, tivessem mais dificuldade de dar continuidade aos estudos profissionalizantes.

Portanto, caro Vinícius, fica aqui minha humilde sugestão para que o Senai de Americana entre, de fato, na nossa era da inclusão total e irrestrita (que, aliás, já chega tarde demais...).

* A saber: encontra-se dois erros nesta frase "à deficientes físicos": 1- não tem crase;2- a terminologia correta é "a pessoas com deficiência física"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Home office - Incomunicabilidade

Descrição da imagem: na foto, se vê, em primeiro plano, um homem sentado na areia da praia, de costas; em segundo plano, mais longe, uma mulher também de costas e sentada na areia, na beira do mar. Ambos estão em trajes de banho. Na foto, vê-se, ainda, a areia da praia, alguns pertences do casal (mochila, esteira, sapatos), o mar ao fundo com um tom prateado por causa do reflexo do sol e, ao fundo, um veleiro.
(Fonte: Google imagens)

Pronto, descobri!
No quarto dia de trabalho em sistema home office (trabalho em casa), descobri a primeira desvantagem: a incomunicabilidade!
Não estar no ambiente de trabalho nos dá uma invisibilidade natural, mesmo que estejamos conectados(as) via internet full time. Talvez a rotina, a correria e tantas outras demandas que ocorrem no espaço físico absorvam totalmente os colegas de trabalho e nosso apelo, via e-mail, é, naturalmente, desconsiderado.
Envio vários e-mails durante o período de trabalho que são sumariamente ignorados pela minha equipe de trabalho. Fico a ver navios (para usar uma expressão que tenha algo a ver com a foto acima)...
Ainda bem que insegurança não é o meu forte, senão já tinha entrado em depressão, achando que é algo pessoal.
Na verdade, ainda não sei explicar muito bem esse fenômeno (da falta de respostas), mas estou buscando.
Tenho o saudável hábito de dar um alô na hora que "entro" no trabalho – ou seja, inicio a conexão via internet para realizar os trabalho para empresa – e de dar um "tchau", do tipo "câmbio, desligo", quando o serviço acaba. Mas, do lado de lá, nada acontece, é um silêncio total e absoluto!
Hoje, fiquei um pouco de saco cheio (tanto, que estou desabafando por aqui) e me desliguei – na hora previamente combinada com a "chefia" – sem dar tchau... Será que alguém sentirá minha falta? Será que estarão contando comigo para alguma coisa e eu vou decepcioná-los? Nossa, que bom que isso acontecesse e eu pudesse, só por alguns segundos, sentir que sou importante para o bom desempenho do trabalho em equipe...
Como diriam nossos irmãos portugueses e ibérico: "vamos a ver...".
Beijo nas crianças!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Home office - Ressaca


Descrição da imagem: um cachorro gordinho dorme relaxamente em uma cadeira do tipo espreguiçadeira. Ele está de chapéu e tênis. Ao lado, um caixote faz o papel de uma mesinha e sobre ele está um copo com um líquido que parece pinga ou uísque.
(Fonte: Google imagens)

Lá se foi a minha proposta de escrever esses relatos em tempo real!!! Não consegui! Mas continuarei escrevendo, falando do que se passou.
No segundo dia de minha experiência de trabalho em casa (home office), acordei de ressaca. Claro! Quem me conhece, sabe que eu não deixaria passar um grande acontecimento em minha vida sem uma boa comemoração...
Sendo assim, no final do primeiro dia de trabalho em casa, bebi uma garrafa interia de um ótimo vinho sul-africano - presente do meu sobrinho.
O vinho é ótimo, mas uma garrafa inteira acabou comigo no dia seguinte. Minha cabeça estava do tamanho do mundo e o corpo insistia em não querer se mover.
Trabalhei, é óbvio, mas só Deus sabe com que sacrifício. Tanto, que não consegui nem atualizar este blog aqui.
Portanto, vamos deixar esse segundo dia de home office passar em branco, pois não vou conseguir falar do trabalho, que acabou saindo automaticamente.
Grata pela compreensão!
x x x
Feriadão

Agora (hoje), estamos em pleno feriadão de 7 de Setembro e estou aqui no micro apenas por lazer.
Acabo de chegar do Rio de Janeiro, para onde fui no sábado (4/09) e voltei ontem.
Estava participando de um evento promovido pelo Ministério da Cultura chamado Encontro da Diversidade - Independência da Cultura, do qual participaram cerca de 4 mil pessoas. A proposta é maravilhosa: reunir todas as "tribos", entre elas povos indígenas, ciganos, movimento negro, GLBTT, pessoas com deficiência (na qual me enquadro), população ribeirinha etc. etc. Mas houve falhas enormes na organização - problemas com hospedagem, com horários de voos, com translados - o que acabou "manchando" um evento que tinha tudo para ser um sucesso.
Mas deu aproveitar, sobretudo pela possibilidade de fazer contato direto e pessoal com culturas tão diversas. Tenho certeza que renderá projetos futuros e novas frentes de atuação cultural.
Hoje, 7 de setembro, estou por aqui apenas para relaxar. Amanhã, retorno ao trabalho!
Até!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Home office - O primeiro dia


Descrição da imagem: um cachorrão, com as patas exageradamente compridas, dorme plácida e relaxadamente em uma poltrona. (Fonte: Google imagens)

1º DIA
Fiquei tão encantada de estar trabalhando na minha casa*, no meu quarto, que não saí da frente do computador nem pra comer. A sensação de conforto e segurança é maravilhosa!
As principais vantagens são:
1- ficar descalça o dia todo;
2- colocar aquela musiquinha gostosa – que tem tudo a ver com você - de fundo, embalando o trabalho;
3- poder, de vez em quando, olhar de soslaio os cerca de 20 quadros (telas, fotos, desenhos) que tenho pendurados pela parede do meu quarto;
4- ver minha gata e minha cachorra estendidas na cama, dormindo o sono dos justos e inocentes, uma imagem que sempre me enternece;
5- sessão banheiro:
5.1 - estar a 18 passos (literalmente) do banheiro;
5.2 - ter o papel higiênico que eu gosto;
5.3 - sentir aquele perfume no ar escolhido por mim;
5.4 - higiene, limpeza e arrumação por conta das mãos mágicas da Maria (minha assistente pessoal);
5.5 - ter todas as adaptações que eu necessito (barra de apoio, banquinho)
6- … e já que estamos na seara da intimidade, é preciso deixar registrado: que delícia poder vestir aquela calcinha um pouco mais antiga, que não aperta da cintura!
As desvantagens são:
1- …
Desculpem, mas por ora não consigo enumerar nenhuma! Mas, afinal, estamos apenas no primeiro dia... Vamos ver o que o futuro nos reserva!
Até amanhã!

* Por um acordo com a empresa jornalística da qual sou funcionária há quase 20 anos (entrei em 1991), a partir de hoje passei a trabalhar na minha casa e mudei de função: vou trabalhar com a web, alimentando de notícias o site da empresa, Cosmo on Line. Esta era uma reivindicação minha já de há algum tempo, pois tem sido cada vez mais difícil - por causa de minha deficiência, aliada à idade e péssimo condicionamento físico (odeio exercícios!) - me locomover e sair de casa com frequência, assim como passar cerca de 8 horas fora de casa diariamente.
O objetivo da criação deste "Diário de bordo" é registrar o dia a dia desta experiência de trabalho em casa (home office) para, daqui há algum tempo, fazer um balanço das perdas e ganhos.
Está dada a largada!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Crime contra entidade de DH em Manaus

MANIFESTO DE REPÚDIO

O Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente - CVI-Brasil, por meio do seu Conselho Diretor, vem a público manifestar o seu repúdio e perplexidade diante do brutal crime ocorrido contra o Centro de Vida Independente do Amazonas (CVI-AM) e especialmente contra o seu presidente, Ronaldo André Brasil - pessoa com deficiência física -, que levou três tiros.
Esperamos que as autoridades competentes façam uma criteriosa investigação e punam os culpados.
O CVI-Brasil expressa sua solidariedade à família de Ronaldo André e a todos os integrantes do CVI-AM, lamentando profundamente o ocorrido.

Sobre os Centros de Vida Independente
Os Centros de Vida Independente (CVIs) são organizações não-governamentais de defesa dos Direitos Humanos com foco na autonomia e emponderamento da pessoa com deficiência.
A Filosofia de Vida Independente foi criada nos Estados Unidos na década de 70 do século passado. Nasceu, então, o Movimento de Vida Independente e os CVIs se proliferaram pelo mundo, tendo entidades em vários países da Europa e América Latina, além dos EUA. No Brasil, existem atualmente cerca de 15 CVIs.
O CVI-AM foi criado em 2005 com apoio do CVI-Brasil.
O conceito de Vida Independente é hoje reconhecido e respeitado internacionalmente já que é parte integrante da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência das Nações Unidas (ONU).

Katia Fonseca
Presidente do CVI-Brasil
katiaf1956@gmail.com
cvibrasil_institucional_2009@yahoogrupos.com.br

segunda-feira, 10 de maio de 2010

'Novela' da acessibilidade está só no início


Descrição da imagem: a atriz Aline Morais, que interpreta Luciana, na novela global Viver a Vida, tetraplégica, está em sua cadeira de rodas, sorridente.


Viver a Vida está acabando. Mas uma outra novela está só no início: o respeito aos direitos das pessoas com deficiência! É uma luta diária para que essas pessoas possam executar as tarefas mais simples do dia a dia, como ir ao banheiro, por exemplo. Raríssimos estabelecimentos de uso coletivo contam com banheiros adaptados (apesar de já ser obrigatório por lei, como reza o Decreto Federal 5.296, de 2004).
A novela global cumpriu papel importantíssimo para a sociedade brasileira: ser vitrine das agruras por que passam a parcela da população que vive com algum tipo de deficiência, seja ela provisória ou definitiva. São milhares de pessoas!
A quem critique a novela dizendo que ela retratou situações ideais e que a maioria das pessoas com deficiência não tem a vida boa de Luciana (muito bem interpreta por Aline Morais). Afinal, a moçoila, além de ser linda, tem várias atendentes – uma auxiliar para o dia a dia, fonoaudióloga e fisioterapeuta em domicílio –, motorista, tecnologia assistiva para poder usar computador ou talheres etc.
Não sejamos ingênuos: televisão é entretenimento e ninguém vai dar audiência a uma história que só mostra desgraças, dificuldades e contratempos. É isso mesmo, Luciana, tetraplégica, vive no bem bom (diferentemente de outras muitas pessoas em iguais condições físicas, que são pobres). No entanto, o mais importante foi mostrado: que pessoas vivendo com tetraplegia podem, devem e merecem ser felizes. Tecnologia e outros meios (como medicamentos, apoios psicoterápicos etc.) para isso existem.


(Publicado no jornal Correio Popular de 9/5/2010)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Chuvas de descaso - Em defesa da vida

Descrição da imagem: Bombeiro e alguns moradores descem um morro, andando contra uma enxurrada que deixa a água na altura acima dos joelhos.

Deixo, hoje, com vocês, um triste e emocionante depoimento de uma amiga, que faz parte de uma lista na internet sobre o Movimento de Vida Independente, da qual participo. Ela, Solane Carvalho, tem sequela de poliomelite, é cadeirante e militante me defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Mas aqui, neste depoimento isceral, ela é apenas uma cidadã indignada e consternada com a tragédia que assolou, recentemente, o estado do Rio, sobretudo Niterói, cidade em mora. É um depoimento em defesa da vida e da dignidade humana. Com a palavra, Solane!


Por aqui (em Niterói) estamos mesmo lutando para vencer os incêndios, a chuva, as ondas (do mar), a falta de luz e comunicação... De fato, a situação tem se mostrado calamitosa – e triste principalmente.
A pulverização da tragédia no município (
de Niterói) é assustadora na exata medida da ausência de efetivas políticas públicas voltadas para a prevenção e respeito à vida ! Andando pelo meu bairro, encontro vizinhos consternados, o dono da banca de jornal, da quitanda, o motorista de táxi. “Lembra-se daquele senhor que trabalhava naquele prédio?” “E o entregador da farmácia sorridente? Onde estão essas pessoas e suas famílias? Essas e tantas centenas de outras pessoas se foram, vítimas de tudo, de todos, de nós mesmos, nosso silêncio, nossas ações e/ou omissões....
Quisera que estivéssemos diante apenas de uma fatalidade. Brigaríamos com os deuses e iríamos dormir blasfemando. Estamos no século 21 e tragédias em encostas de favelas não são obra da “malvada” natureza (um raio indomável, um ciclone, um terremoto, sequer a chuva), são frutos do desrespeito à vida e à dignidade humana, fruto do descaso. É óbvia e gritante a responsabilidade desses atores públicos.
O drama das famílias que tudo perderam tem feito parte cotidiana dos nossos dias. Ruas interditadas, bombeiros, meus vizinhos recolhem mantimentos nos corredores do prédio, catamos no armário nossas roupas pouco usadas, nossos sonhos também.... Aquela menina de 8 anos de idade, moradora da favela, órfã de todos, em sua sabedoria de criança comoveu o País ao ser entrevistada pela Fátima Bernardes (jornalista da Rede Globo) - e nos comoveu – ao afirmar que vai prosseguir, que tem muita vida pra viver. Vital esperança.
Katia, querida, tenho estado atenta aos noticiários da cidade em busca de informações sobre pessoas com deficiência vítimas desse último dilúvio. Soube, até agora, apenas de um rapaz que infelizmente, sem chance alguma, faleceu soterrado pela lama num morro próximo a minha casa. Segundo soube , ele tinha uma deficiência física e usava cadeira de rodas. Lembrei logo do rapaz do posto de gasolina, morador daquele morro, que, sempre sorridente, calibrava os pneus da minha cadeira de rodas...
Aqui em Niterói, um dos postos de recolhimento de mantimentos é o Clube Canto do Rio, localizado no Centro da cidade. Felizmente, o número de doações é tão expressivo que hoje, por exemplo, não era possível transitar de carro pela rua do Clube que se encontra totalmente congestionada de veículos que não param de chegar, trazendo donativos para as vítimas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Viagem a Maputo - Diário de bordo (2)


Descrição da imagem: Uma tenda de acampamento verde-musgo (camping) e uma escultura de girafa, em tamanho natural (muito parecida com a verdadeira girafa), enfeitam a frente de uma loja.

A foto acima mostra a frente de uma loja no aeroporto de Johannesburg (África do Sul). Já dá pra entrar no clima das savanas africanas, não dá?
O aeroporto é enooooooorme. Só para se ter uma ideia, andamos (eu e minha amiga na cadeira de rodas e nossas acompanhantes a pé - coitadas!) por cerca de uma hora e meia dentro do aeroporto. Isso aconteceu na volta, pois chegamos de Maputo em Johannesburg à tarde do dia 11/3 e nossa conexão aérea para São Paulo só sairia no dia seguinte, às 10h da manhã. Então, tivemos que sair do aeroporto para ir dormir num hotel. Foi inacreditável a distância entre o desembarque da aeronave, vinda de Maputo, e a saída do aeroporto. Uma hora e meia (ou um pouco mais), dá pra imaginar?
Mas reforço que as pessoas que nos atenderam na África do Sul foram simpatissíssimas. Não houve nenhum problema em lidar com duas cadeirantes. Parecíamos até gente normal!!!!
Inclusive, na volta, furou o pneu da minha cadeira de rodas. Eu fiquei na cadeira da companhia aérea - a South African Airway - e, na hora de ir para o hotel, em translado fornecido pelo próprio hotel, foi-me oferecida também uma cadeira de rodas substituta. E com essa cadeira eu fiquei até o dia seguinte,quando voltamos ao aeroporto para viajarmos de volta ao Brasil.
Bem, finalmente, no próximo post eu falarei de Maputo. Chegaremos lá!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Maputo - O Brasil na FDLP

Descrição da imagem: grupo de pessoas que compõem a FDLP possa para foto de encerramento de sua assembleia geral. Na fileira da frente, estão as pessoas em cadeira de rodas (eu entre elas). São, ao todo, cerca de 30 pessoas.

Estive em Maputo, capital de Moçambique (África), no início de março para participar da reunião da Federação das Organizações de Pessoas com Deficiência dos Países de Língua Portuguesa (a FDLP). Fui como presidente do Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente do Brasil (CVI-Brasil), entidade membro da FDLP.
Estavam presentes representantes de entidades oito países: Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Portugal e Brasil.
Os principais trabalhos desenvolvidos nesta assembleia da FDLP foram a reforma de seu estatuto e a eleição de sua nova diretoria, que vai vigorar durante os próximos quatro anos. Dividida em uma presidência e quatro vice-presidências, a atual diretoria tem seu principais cargos ocupados por Moçambique (presidência e primeira vice-presidência) e Brasil (segunda vice-presidência). Dentro dos próximos dois meses, deverão ser definidos os nomes das pessoas que representarão estes países.
Há muito trabalho pela frente, sobretudo nos países menos desenvolvidos. Mas a troca de experiência, a ajuda mútua e a rede de ações entre estes países vão garantir, tenho certeza, um futuro melhor às pessoas com deficiência que ainda continuam sendo relegadas e marginalizadas do seio da sociedade, lugar de onde nunca deveriam ter saído.
O presente ainda é sombrio, mas a consolidação da FDLP traz novas esperanças e luzes, mesmo que ainda pequenas, aos nossos irmãos e irmãs com deficiência dos países lusófonos. Para muitos deles(as), a luta está só começando, mas com muito brio e vontade de vencer.

Maputo - Diário de bordo (1)

Minha viagem a Maputo, capital de Moçambique (África), no início de março, foi inesquecível, principalmente do ponto de vista social. Foi muito bom conhecer de perto o que eu só sabia através dos livros.

Os moçambicanos são simpaticíssimos!!! Sempre com um sorriso largo no rosto, apesar de tantas dificuldades que vivem em seu país, arrasado por diversas guerras e exploração dos colonizadores...

Saí de São Paulo e parei em Johannesburg, África do Sul, numa viagem que durou cerca de 11 horas. De lá, parti para Maputo (cerca de 2h de viagem).

Já em Johannesburg pude ter contato com a simpatia dos africanos, esse povo-irmão secular! Vejam na foto a seguir a simpatia do comissário de bordo, que fez questão de ser fotografado comigo. Aliás, ele foi muito gentil e prestativo durante toda a viagem. Valeu, comissário!

Descrição da imagem: eu, em minha cadeira de roda, e um comissário da companhia South African Arways posamos para a foto na saída da aeronave (um corredor metálico). Ele, com um largo sorriso, está agachado atrás da minha cadeira, me abraçando.


(Por limitação do blog - ou da blogueira... - vou dividir esse Diário de Bordo em partes, pois não estou conseguindo postar mais de uma foto e adicionar os textos. Até que é bom, porque terei assunto para vários posts. Aguardem os próximos capítulos!)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dia Internacional da Síndrome de Down

Descrição da imagem: três menininhos, de cerca de 2, 3 e 5 anos, respectivamente, aparecem em fila (um atrás do outro) sentados. O que está em primeiro plano tem Síndrome de Down e está dando uma gargalhada, com a boca bem aberta. Atrás dele, o outro menino o está abraçando e sorrindo. No fundo, aparece a imagem desfocada do terceiro menino.

Comemorado desde 2006, 21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data foi instituída pela Down Syndrome International (DSI), entidade que congrega associações de síndrome de Down de todo o mundo em alusão aos 3 cromossomos número 21 que cada pessoa com síndrome de Down carrega (21/3). No Brasil, é a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD) quem articula e organiza eventos em todo o país.

Minha homenagem vai nas sensíveis palavras de Fábio Adiron (pai de Samuel, criança com Síndrome de Down, e blogueiro dos bons). Vejam que linda história!


Mariana era louca por laranjas. Não qualquer laranja, era louca por laranja pera.
Era tão fanática que costumava comprar no atacado. Toda semana ía ao Ceasa e comprava um saco de laranja pera.
Delas fazia suco, saladas de frutas de uma fruta só, as chupava puras. Fazia doces, bolos e tortas.

Nem sempre todas as laranjas vinham perfeitas, algumas chegavam mais secas, outras um pouco amassadas. Mesmo assim Mariana aproveitava todas, de uma forma ou de outra.
Até o dia em que, no meio do seu saco de laranjas pera veio um exemplar de laranja bahia. Para muitos seria apenas mais uma laranja, não para Mariana que ficou perplexa e confusa com um tipo de laranja diferente.
A casca era mais fina, o tamanho maior, o suco com teores diferentes de açúcar e de ácido cítrico.Ela não estava preparada para isso. Não sabia nem por onde começar. Fez uma busca na Internet sobre a tal da laranja estranha. Só encontrou informações sobre os aspectos fenotípicos do citro. Isso não ajudava.
Começou a ligar para amigas. O máximo que descobriu foi que essas laranjas não tinham sementes. Pior foi ter de ouvir da melhor amiga que era uma laranja, e laranjas são laranjas. Que diferença isso ia fazer?
Concluiu que não teria outra alternativa a não ser partir em busca de especialistas. Como iria descascar aquela pele mais fina? Se eram mais doces, como procederia no açúcar da sua famosa compota de laranja? Os gomos maiores não enroscariam no seu processador?
Descobriu várias pessoas que se dedicavam ao estudo e manuseio de laranjas bahia. Uma mulher que era descascologista, com doutorado em bahias. Um agrônomo que tratava de distúrbios de desenvolvimento de citros e até um chef compoteiro que tinha uma instituição dedicada ao desenvolvimento da tal laranja.
Pensou em mandar seu exemplar de laranja bahia para um desses especialistas. Mariana, no entanto, era uma mulher persistente, não poderia admitir que tinha sido derrubada por uma laranja.
Matriculou-se num curso à distância, de capacitação em laranjas. Na primeira aula descobriu que a bahia era só uma das dezenas de espécies de citrus sinensis: Lima, Westin , Rubi, Valencia, Hamlim e Kinkan. O curso não lhe ensinou o que fazer com as diferentes laranjas, mas abriu seus olhos para todo um mundo diverso do que ela conhecia. Também contatou que só com prática de uso de tanta variedade é que ela descobriria como tirar o melhor de cada um dos tipos.
Não perdeu seu amor antigo pela laranja pera, mas descobriu que a vida era muito mais interessante quando as laranjas se misturavam. Era possível fazer sucos usando combinações de frutos mais ácidos com outros mais doces e, até mesmo enriquecer seu bolo de laranja com calda de uma laranja diferente.
Empolgadas partiu para o estudo de tangerinas, depois limões e até mesmo grapefruit.
E, assim como fazia com a laranja pera, Mariana nunca desperdiçou nenhum dos seus cítricos.
Uma verdadeira mestra.


Fonte: Agência Inclusive (http://www.inclusive.org.br/)

domingo, 31 de janeiro de 2010

'Tamo' na mídia


Pessoas queridas, escrevo hoje para convidar vocês a conhecer meu novo blog, o 'Tô dentro', hospedado no portal Cosmo on Line, da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), empresa na qual trabalho como jornalista.

O fato de estar na grande mídia é para ser comemorado, pois pode dar mais visibilidades às questões referentes ao universo das pessoas com deficiência, sendo, assim, um importante instrumento de inclusão.

Façam uma visita. O endereço do Cosmo on Line é http://www.cosmo.com.br/. Quando entrar, é só clicar no link "Blogs e blogueiros". Aproveito para recomendar o meu blog "vizinho" Botequim do Bruno. Pra quem curte samba, boa música e um papo inteligente e sensível, é um prato cheio!

Aguardo a visita de vocês.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Na esperança de um mundo melhor

Nesses tempos sombrios em que vivemos, enfrentando a fúria da natureza, com enchentes e terremotos, deixo aqui uma mensagem de esperança num futuro melhor. A grande lástima é que o poema transcrito abaixo foi escrito no final do século XIX e ainda não alcançamos "o tempo em que o homem seja amigo do homem"...


Aos que virão depois de nós

I

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II

Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.

III

Vocês, que vão emergir das ondas
em que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
o ódio contra a baixeza
também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a
amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão.

Berthold Brecht (1898-1956)

sábado, 9 de janeiro de 2010

A dor e a delícia de ser o que se é


Por acaso, assisti ao filme Na Ponta dos Pés pela TV a cabo. Fiquei surpresa, pois nunca havia ouvido falar sobre essa produção que retrata a realidade dos anões, melhor falando, das pessoas de baixa estatura, assim como eu.

Quero, aqui nesse espaço, indicar o filme, que está disponível em DVD. Não vou me ater à sua qualidade artística, que não chega a ser ótima (exceto pela atuação exemplar de Gary Oldman), mas é boa e garante um bom entretenimento. Mas quero indicar o filme sobretudo para o conhecimento da vida dessas pessoas de baixa estatura. Como bem ressalta o filme, não é apenas uma questão de estatura, mas há uma realidade complexa, que envolve problemas sérios de saúde, dor física, incômodo, além, é claro, do preconceito a ser enfrentado.

"Ser anão dói", ouve-se em determinado momento do filme. E é isso mesmo, dói, em vários sentidos (física e emocionalmente). Essa é uma realidade, mas não é a única. Na outra ponta, temos o retrato de famílias felizes, com integrantes acometidos pelo nanismo e outros não. O próprio protagonista do filme, interpretado pelo inglês Matthew McConaughey, tem estatura de tamanho padrão (1,84m) e é filho de um casal de baixa estatura e é irmão gêmeo de um pequeno também. Essa diversidade é outro ponto relevante dessa produção franco-norte-americana.

Pode-se concluir que a vida dessas pessoas de baixa estatura não é muito diferente do que a vida de qualquer outra pessoa, a não ser o ângulo pelo qual elas veem o mundo. Há dor, mas há felicidade. Há, sobretudo, a possibilidade de perceber a realidade que nos rodeia de uma forma diferente (talvez até por causa desse tal ângulo menor...), o que nos dá certa exclusividade de compreensão. E essa é a riqueza possível nos relacionamentos entre pessoas diversas: a troca de percepções. Assim, aprendemos todos.

Deixo aqui a dica do filme na esperança de que mais gente possa tomar conhecimento do "mundo" que envolve as pessoas de baixa estatura, pois, afinal, acredito que a principal fonte do preconceito seja a falta de conhecimento.

Links para mais informações sobre o filme:








sábado, 2 de janeiro de 2010

2010 - Muito além!



Isso de querer ser exatamente o que a gente é
ainda vai nos levar além
(Paulo Leminski)





Que em 2010, possamos

ir MUITO além!!!!!


Foto: Denise Rodrigues

Descrição da foto: luar refletido numa lagoa; foto feita na Lagoa da Confusão (TO)