terça-feira, 20 de março de 2012

O tapa na cara de ‘O Filho Eterno’





Descrição da imagem: um homem com cerca de 30 anos está como que em frente a uma vitrine, com as mãos espalmadas no vidro. Ele tem a expressão séria.

‘O Filho Eterno’ é chocante. Um tapa na cara! Destila todos os preconceitos que parecem existir na própria essência do ser humano. Numa adaptação da famosa frase filosófica, poderia ser definido assim: ‘tenho preconceito, logo, existo!”. Por isso mesmo, pode ser considerada uma peça teatral de utilidade pública. Ao vermos personificado o preconceito em cima do palco, como um espelho maldito de nossa humanidade pervertida, temos a possibilidade de acordar desta letargia social que - sobretudo em tempos de globalização - amalgama nossos sentimentos, tornando-nos um amontoado único de zumbis que vão vivendo sem questionar o que acontece à nossa volta.

O espetáculo da companhia carioca Os Atores de Laura entrou em cartaz no último sábado (17) no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, em São Paulo. ‘O Filho Eterno’ é a adaptação da história contada por Cristóvão Tezza, adaptada para os palcos por Bruno Lara Rezende e magistralmente interpretada pelo ator Charles Fricks sob a direção de Daniel Herz. Por cerca de hora e meia, a plateia assiste ao tormento de um pai de uma criança com Síndrome de Down. Baseada em fatos verídicos, a história se passa no início dos anos 80, quando as pessoas nascidas com esta síndrome ainda eram comumente chamadas de “mongolóides” – e isso é incansavelmente repetido pelo pai-ator e entra por nossos ouvidos como “um canto torto, que feito faca corta a nossa carne” (citando Belchior). Mas é preciso repetir e falar bem alto - gritar mesmo! – para que se perceba o absurdo e a crueldade dos rótulos!

No decorrer da peça, percebe-se que a pessoa problemática, “anormal’ e com qualquer “retardo” é o próprio pai. É ele quem aprende com o filho, dia a dia. Sem pieguice e com uma realidade que assusta de tão real (sic), a história se desenvolve sem grandes dramas nem euforias. É igualzinho ao que vivemos em nossa lida diária: desconfortos, revoltas, tristezas, surpresas e amadurecimento. E o jogo recomeça a cada dia, sem que não se saiba qual será o final. Este é o grande mistério da vida, que assusta e ao mesmo encanta qualquer um, seja um pai de uma criança com Síndrome de Down, seja a própria pessoa com Down, seja quem seja.

Serviço

‘O Filho Eterno’ – Peça teatral da companhia Os Atores de Laura, com interpretação de Charles Fricks e direção de Daniel Herz. Adaptação de Bruno Lara Rezende para o romance de Cristóvão Tezza.

Às sextas e sábados, às 21h; domingos, às 18h. Até 8 de abril.

No Sesc Consolação – Teatro Anchieta (Rua Doutor Vila Nova, 245 – Consolação) – São Paulo. Telefone: (11) 3234-3000.

Ingressos: R$ 32,00 (inteira) e R$ 8,00 (matriculados no Sesc). Is ingressos podem ser comprados nas unidades do Sesc de qualquer cidade.

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